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GUAÍRA (PR) — Um grupo de indígenas bloqueou, na manhã desta quinta-feira (12), um trecho da BR-272, na altura do km 556, entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná. A manifestação ocorre em protesto contra a demora na demarcação de terras tradicionais e cobra posicionamento efetivo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o protesto teve início ainda durante a madrugada, quando cerca de 20 indígenas, entre homens, mulheres e crianças — muitos armados com arcos e flechas — tomaram a pista e atearam fogo em galhos e entulhos para impedir a passagem de veículos. Inicialmente, somente ambulâncias e carros de emergência estavam sendo autorizados a passar pelo bloqueio.

Por volta das 7h30, após negociação com agentes da PRF, uma das pistas foi temporariamente liberada. No entanto, pouco depois das 8h, os manifestantes reocuparam completamente a via, restabelecendo o bloqueio total.

“Queremos um retorno do Incra, chega de promessas”
Os indígenas exigem uma resposta oficial do Incra sobre os processos de regularização fundiária que envolvem territórios tradicionalmente ocupados por povos Avá-Guarani na região. “Queremos um retorno. Chega de promessas. O tempo está passando, e nosso povo está cansado de esperar”, disse um dos líderes do protesto, que preferiu não se identificar.

O território em disputa inclui áreas em processo de identificação e demarcação há mais de uma década, como a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, que é reivindicada pelos povos Avá-Guarani e tem enfrentado resistências políticas e jurídicas para seu reconhecimento.

Localização estratégica e impacto no trânsito
O ponto do bloqueio — próximo à Mineradora Maracaju e à Vila Guarani — é uma rota importante para o tráfego de veículos entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul. Empresas de transporte e moradores relataram lentidão no tráfego e incertezas sobre a duração da paralisação.

“Ficamos quase uma hora parados. Motoristas estão tensos, mas os indígenas estão pacíficos. Só querem ser ouvidos”, relatou um caminhoneiro que passava pela região.
A Polícia Rodoviária Federal, que acompanha a manifestação desde as primeiras horas, afirmou que a situação segue sob monitoramento constante e que mantém diálogo com os líderes indígenas para evitar confrontos.

Contexto de tensão contínua
Essa não é a primeira manifestação do tipo na região. Em janeiro de 2025, indígenas realizaram o bloqueio da ponte Ayrton Senna (BR‑163), que liga Guaíra (PR) a Mundo Novo (MS), também cobrando avanços na demarcação de terras e segurança para suas comunidades. Naquele episódio, os protestos ocorreram após ataques violentos registrados em aldeias da região, com relatos de tiros, incêndios e feridos.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério dos Povos Indígenas já haviam reforçado sua atuação local após esses conflitos. No entanto, segundo os indígenas, a resposta concreta em relação à demarcação das terras ainda não veio.

O que dizem os órgãos responsáveis?
A reportagem entrou em contato com o Incra, que informou que os processos fundiários na região “estão em tramitação”, mas não deu prazo para resposta oficial às demandas dos manifestantes. A Funai também foi procurada, mas até o momento não se pronunciou sobre o novo protesto. Em resumo:
Quem protesta: Cerca de 20 indígenas (Avá-Guarani), incluindo mulheres e crianças.
Onde: BR-272, km 556 (entre Guaíra e Terra Roxa-PR).
O que reivindicam: Resposta e ações do Incra para a demarcação de terras.
Situação atual: Rodovia bloqueada. PRF acompanha e negocia liberação.
Impacto: Trânsito parado, filas e apreensão de motoristas.
Nota da redação

A paralisação reflete o acúmulo de tensões históricas vividas pelos povos indígenas na região oeste do Paraná. As ações de hoje reforçam que a ausência de políticas públicas efetivas e a morosidade na regularização fundiária seguem sendo gatilhos diretos para os protestos. Enquanto isso, comunidades inteiras permanecem vulneráveis à violência e sem acesso pleno ao território que tradicionalmente ocupam.