Febre amarela: SP tem mortes após ficar sem registro da doença por 3 anos
Depois de três anos sem casos, o Estado de São Paulo já registrou duas mortes por febre amarela desde janeiro. São quatro casos confirmados e, em dois, os pacientes se recuperaram, segundo a Secretaria de Saúde do Estado. Em todo o Brasil, foram cinco casos e três mortes por febre amarela até agora. Os registros deste ano já superam todas as notificações de 2022, quando houve quatro casos e dois óbitos.
A doença é transmitida pela picada de mosquitos. Grave e muitas vezes letal, a febre amarela pode ser prevenida pela vacinação. A pasta estadual recomendou que todos municípios intensifiquem a vacinação para evitar o avanço da doença. Segundo a secretaria, as duas vítimas não haviam sido imunizadas. O Estado não registrava casos desde o início de 2020, quando um caso, com provável infecção em Santa Catarina, foi confirmado.
O surto ocorre na região de São Carlos, no centro-leste do Estado, e atinge quatro municípios paulistas, dois deles na divisa com Minas. O óbito mais recente aconteceu em 30 de abril e vitimou um homem de 44 anos, morador de São João da Boa Vista. O caso só foi confirmado na última sexta-feira, 26, após exames. Embora residente na Vila Valentin, na área urbana, ele esteve na zona rural antes de apresentar sintomas.
A prefeitura informou ter feito mutirões para vacinar toda a zona rural. Além disso, o Departamento de Saúde de São João da Boa Vista realiza há uma semana a nebulização contra os mosquitos transmissores da febre amarela em bairros periféricos da área urbana. A cidade não tinha casos de havia sete anos.
Outro óbito foi registrado em São Sebastião da Grama, em fevereiro, mas só foi confirmado na semana passada. Na quinta-feira, 25, a prefeitura usou sua página no Facebook para comunicar a ocorrência. “A Gerência de Saúde alerta toda população que houve um óbito causado por febre amarela. A única maneira de prevenção é com a vacina”, postou, pedindo aos não vacinados para se dirigirem ao Centro de Saúde.
A vítima era moradora de Monte Santo de Minas, na divisa com São Paulo, mas foi internada e morreu na cidade paulista. Em fevereiro, outro paciente pegou a doença em São Sebastião da Grama, mas se recuperou. Ele era morador de Mococa, cidade vizinha.
Em 29 de março, depois de encontrar um macaco-prego morto com o vírus da doença na zona rural, a prefeitura de Mococa realizou mutirão de vacinação em 31 propriedades rurais, entre sítios e fazendas.
O primeiro caso paulista de febre amarela deste ano aconteceu em janeiro, em Vargem Grande do Sul, na divisa com Minas. O paciente, de 73 anos, foi internado em estado grave, mas se recuperou. A prefeitura mobilizou equipes e vacinou 113 moradores da zona rural, vizinhos da vítima. No lado mineiro, a Secretaria de Saúde registrou a morte, em março, de um trabalhador rural de 41 anos, morador de Monte Santo de Minas. O paciente havia se deslocado para o interior de São Paulo antes de apresentar os sintomas.
Vacina pode ser tomada gratuitamente
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que, desde o primeiro caso confirmado em janeiro, a pasta, junto com os municípios, reforçou a vacinação nas regiões, realizando investigação epidemiológica e ambiental dos locais prováveis de infecção, além da investigação da presença dos insetos e coleta de material biológico de material de macacos para exames. Todos os municípios do Estado foram alertados para detectar precocemente casos suspeitos.
A vacina contra a febre amarela faz parte do calendário de imunização e as doses estão disponíveis, gratuitamente, em todos os postos de saúde do Estado. A 1ª dose deve ser aplicada aos 9 meses de idade e a segunda aos 4 anos. A partir dos 5 anos, para aqueles que não estão com a vacina em dia, é recomendada dose única.
Ainda segundo a pasta, a cobertura vacinal foi de 82% no Estado nos três primeiros meses deste ano. Em 2022, o índice ficou em 64,4%. Para quem mora no interior, a imunização é imprescindível, diz a secretaria. “A vacina da febre amarela tem um período de 10 dias para criar anticorpos. Desta forma, para quem frequenta zona de mata, acampamentos, trilhas e cachoeiras é de suma importância a imunização o quanto antes”, disse, em nota.
No Estado de São Paulo, desde que a doença reemergiu em 2016 e avançou pelo interior, todo o Estado é considerado área de risco, com recomendação de vacina. Naquele ano, foram 648 casos e 230 óbitos.
Conforme o Ministério da Saúde, a vacinação contra a febre amarela está indicada para todo território nacional no calendário de rotina dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). O público-alvo do imunizante é todo cidadão residente no Brasil ou estrangeiro em visita, com idades entre 9 meses e 59 anos. A indicação é de ao menos uma dose de vacina após os cinco anos de idade – crianças que receberam a dose aos 9 meses devem receber um reforço aos 4 anos de idade.
A cobertura vacinal este ano no País está em 48,7%, ante 60,6% no ano anterior. Ainda segundo o ministério, o Programa de Vigilância da Febre Amarela Silvestre atua com diferentes áreas para impedir a transmissão urbana e detectar oportunamente a circulação viral para orientar as medidas de controle. Desde 2019, houve 31 óbitos no País pela doença.
Tire suas dúvidas
1. Como é transmitida? Pela picada de mosquitos portadores do vírus de febre amarela. Em regiões de campo e floresta, o principal mosquito transmissor é o Haemagogus. O vírus também pode ser transmitido pelo Aedes aegypti, na forma urbana da doença. Casos de transmissão urbana, no entanto, não são registrados no País desde 1942.
2. A febre amarela é transmitida de pessoa para pessoa?
Não.
3. Qual é o papel dos macacos na transmissão?
Primatas podem se contaminar com o vírus, exercendo também o papel de hospedeiros. Se picados, os animais transmitem o vírus para o mosquito, aumentando, assim, as chances de propagação da doença.
4. Quais sintomas provocados pela febre amarela?
A febre amarela é classificada como doença infecciosa grave. Provoca calafrios, dor de cabeça, dores nas costas e no corpo, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Os primeiros sintomas aparecem entre 3 a 6 dias depois da infecção.
5. Qual é a evolução da doença?
Para maior parte dos pacientes, os sintomas perdem a intensidade a partir do 3º ou 4º dia da infecção. Em alguns casos, porém, a doença entra em sua fase considerada tóxica.
6. O que ocorre nos casos graves?
Cerca de 10% dos pacientes desenvolvem a forma grave da doença. Ela geralmente ocorre após um período breve de melhora dos primeiros sintomas. A febre reaparece, há hemorragias, insuficiência hepática, insuficiência renal. Um dos sintomas é a coloração amarelada da pele e do branco dos olhos. Também não é incomum pacientes apresentarem vômito com sangue, sintoma da hemorragia. Cerca de 50% dos pacientes que desenvolvem a forma grave morrem num período entre 10 e 14 dias.
7. Qual é o tratamento? Não há tratamento específico.
A medida mais eficaz é a vacinação, para evitar a contaminação da doença.
8. Posso me vacinar a qualquer hora?
Sim, a imunização é oferecida na rede pública de saúde e pode ser procurada a qualquer momento do ano.
9. Quais são as reações possíveis à vacina?
Os efeitos colaterais graves são raros. Mas 5% da população pode desenvolver sintomas como febre, dor de cabeça e dor muscular de 5 a 10 dias. É infrequente a ocorrência de reações no local da aplicação.
10. A vacina deve ser tomada por toda a população?
A vacina é contraindicada para crianças menores de seis meses, pessoas imunossuprimidas e com reação alérgica a ovo. Idosos acima dos 60 anos, gestantes, pessoas portadoras do vírus HIV ou com doenças hematológicas devem consultar um médico antes de se vacinar.
11. Já sou vacinado. Preciso repetir a dose?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, estudos mostram que uma só aplicação é capaz de dar imunidade por toda a vida. O Brasil era o único país a adotar ainda o esquema vacinal em duas doses. Em caso de dose fracionada, uma nova vacina deve ser tomada após nove anos.
12. Quem tomou a vacina em dose integral há mais de dez anos deve tomar de novo?
Desde 2017, o Ministério da Saúde adota a resolução da OMS: apenas uma dose é suficiente para proteger durante a vida toda. Sobre a possibilidade de contaminação mesmo tendo tomado a vacina, o Ministério da Saúde diz que “algumas pessoas podem não desenvolver anticorpos suficientes para proteger contra a doença, essa é uma situação rara, mas pode acontecer, por isso destacamos que a imunidade é entre 95% a 99%, ou seja, essa variação de 5% significa que não vai proteger entre 1% a 5% da população mesmo sendo vacinada.” Apesar da polêmica em torno do número de doses, do ponto de vista burocrático e internacional, os viajantes precisam ter tomado apenas uma dose integral na vida para obter o certificado.
13. Quando o viajante deve tomar a vacina contra a febre amarela?
A vacina é essencial para quem viaja a áreas endêmicas dentro do País. Segundo o Ministério da Saúde, hoje são: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Algumas delas, porém, apresentam mais riscos do que outras. E também para alguns países que exigem o certificado internacional de vacinação – Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP) – como forma de se protegerem da disseminação da doença.
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